Portugal, fazendo jus ao título de país com a maior produção de fait divers do planeta, pariu no mês passado o escândalo da rapariga que, com um brilho cândido, desejou ter uma carteira de senhora que custava os olhos da cara. O povo caiu-lhe em cima e a partir dos seus iphones e ipads e todas essas merdas invariavelmente caras (desculparam-se alguns dizendo que já havia no mercado um modelo mais recente) foram para o facebook crucificar a pequena e os seus desejos. E ela que só queria uma mala. O mesmo país que dá de mamar a tanto bezerro enjeitado (cit. Barreiros), e que tanto tempo mamou da magna teta europeia, gerou há uns anos um cuco emproado que do ninho foi atirando borda fora os pintos mais enfezados, que ele desdenhava de parolos e atrasados. Quando o cuco gerou descendência, o ninho não aguentou e cedeu, a mama secou, mas os filhos do passaroco não esqueceram o sabor a leite e mel a que estavam habituados desde os primeiros dias. Espremeram outras mamas, mas o leite saía azedo, e o mel então, nem vê-lo. Uns saltaram do ninho e foram para longe, mas nunca nenhum aterrou nos idílicos vales da promessa – bem pelo contrário, à força perderam as manias e lá tiveram de fazer pela vida; perceberam que o leite vem às gotas e que o mel só chega para todos nos dias de festa. Os que ficaram viveram na ânsia de voltar aos bons tempos da velha teta, de um jeito ou de outro, mesmo que tal só fosse possível pela negação do presente. A teta tornou-se profética, e os passarocos deram-lhe muitos nomes e inventaram muitas receitas para a convocar. Mas ela nunca chegou. Então levantaram suspeitas entre si e cobiçaram os ninhos dos outros sob a acusação de não venerarem devidamente a Santa Mama. Um passaroco trabalhou para ter uma mala, daquelas pretas clássicas que dão com tudo. Os passarocos todos ficaram indignados com a bizarra possibilidade. A mãe cuco deu-lhes razão, e afundou-se um bocadinho mais no buraco do seu ninho. A teta, essa, borrifou-se para todos eles.
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